sexta-feira, 27 de maio de 2016

Romper o Dia

A vida é isso: romper-se, decididamente, os limites. Limites do medo, limites da razão, limites do querer. Rompemos o ar, rompemos a luz, rompemos as formas e os conteúdos, rompemos a alma, expondo os sentidos dos corpos! Certeza sem enganos. Descontinuidades que se interpõem e se mesclam e se fundem e se ultrapassam. Além, muito além de tudo; dos sonhos, das noites, de tudo... de tudo o que existe: olhos, ouvidos, nariz, língua, cor, som, sabor, cheiro, tato. Eu percorro seu corpo, você percorre o meu. Meticulosamente.

O desejo que nos lança fora de nós, para bem longe desse “nós” que conhecemos (conhecemos?). O desejo que se realiza e nos arrasta, ao mesmo tempo em que nos reata à vida, por ele excedida. Momento único (espetacular/maravilhoso!) esse do desejo perceber a ruptura dos limites! Na posse (por que não?!) de um pelo outro; de um sobre o outro, pelo outro, através da beleza dos sentidos. Posse, doação, fúria e doçura. Como é doce a sua pele! Quente sua boca, seus contornos, seu desfalecimento em mim e por mim!

Respiramos. A minha e a sua respiração, uma só, um mesmo ritmo. Roucos sussurros, murmúrios, batidas do meu coração e do seu. Redemoinhos de ventos, palavras sem sentido (e haveria necessidade de sentido?). Pulsar de sangue e de ar através dos pulmões, da pele, que se ruboriza. Explosão. Deslizo em você e você em mim. E o toque agora é de veludo, quente, manso, caminhos percorridos pelas conchas de nossas mãos. Você é meu, eu sou seu e, agora, o tempo, que se detém...


domingo, 15 de maio de 2016

Born to Care

Eu não sei se o que sinto por você é amor. Sei que, se for, é diferente do amor que senti, do amor que eu tive, acreditando ser a única forma de amar. Se eu tivesse que resumir, nesse momento, o que sinto, a palavra mais exata seria encantamento! Na verdade, é uma mistura de encantamento, sedução, medo, acho que você entende. E, sendo bem honesto com você, grande parte desse medo tem a ver com nossas diferenças – já falamos a respeito – e, dentre todas, nossos estágios de vida, a idade... (por favor, eu preciso ser objetivo, ao menos nesse instante de profunda paz).

Sim, eu tenho algumas certezas; muitas. Você aqui, com a cabeça no meu colo, esses olhos atentos, doces... meu Deus, você é lindo demais! Sua pele, o jeito que você me toca, a calma que me transmite apenas por estar tão perto assim, não consigo descrever! É muito bom tudo isso e vai muito, mas muito mesmo, além do óbvio tesão (rs) que existe entre a gente. Sei que você sente igual. E esse saber independe do que já conversamos. É real, é sensorial... deve ser a tal “química orgânica”, com se diz por aí. E nem preciso ressaltar a sedução que suas músicas exercem sobre mim. É covardia o modo como você me invade tão facilmente, toda vez que canta olhando para o fundo da minha alma!

Também tenho certeza que um vírus (desculpe por tocar nesse assunto) não pode, não deve ser o grande obstáculo para que esse sentimento não deva ser alimentado. Novamente temos uma bela combinação: eu amo cuidar! Cuidar, para mim, vai além do sentido usual da palavra. Cuidar, eu penso, está em cada pequeno gesto, em cada mínima palavra de carinho, de afeto. Cuidar é o zelo que nos dispõe a tudo e apenas pressupõe uma coisa: a falta de egoísmo. Parece radical, mas não é! Aliás, é bem mais simples do que as pessoas pensam. Você sente minhas mãos acarinhando os seus cabelos?

Talvez, não sei... será que você consegue me prometer uma única coisa? Eu não quero te prender a mim apenas por esse viés do meu cuidar. Eu gostaria muito, ao contrário, que você enxergasse o meu cuidar – sempre! - como uma forma de te libertar das possíveis amarras que ainda teimem em te amedrontar. Inclusive e, principalmente – agora entra a parte da promessa (rs) – de mim mesmo se, porventura, algum dia, eu me constitua numa dessas amarras. Você entende isso? Prometa pra mim, por favor, que, se algum dia, você não sentir nesse meu cuidado algo que liberte... você se liberte de mim? Só isso. E, acredite, isso é a única coisa que me importa pra seguir em frente com você.

PS1: Resumo de uma conversa (quase um monólogo!) que tivemos ontem. Eu estava com meu “falador” aberto (rs).

PS2: Hoje, a última música que ele cantou (aqueles olhos que me hipnotizam!)... nem preciso dizer pra onde fui transportado! Depois ele me pediu pra deixá-lo na casa dos pais. Acho que faz muito tempo que ele não os vê...


terça-feira, 3 de maio de 2016

The Worry List

I'm tired, twisted, barely breathing, buried in the dark
Don't be concerned, it's just the power of a breaking heart…

Que força estranha é essa que, mesmo sendo conhecida (uma velha conhecida e, no meu caso, julgada extinta), não permite que se lute contra? A razão, “soberana”, pode emitir mil julgamentos, mil condutas. Entretanto, impassível, a força apenas está, apenas existe! Pode-se dar voltas, barganhar (ilusão de se crer na infantilidade da força), fingir que os caminhos são outros. Nada adianta!

Um dia eu passava por lá, “sem querer”. Em outro, alguma desculpa que me forçasse a não parar. Foram vários dias. Até que... quem sabe ele não está mais. Quem sabe se mudou. É quase como uma falsa aposta, feita a mim mesmo, na quase certeza de perder. Mas, quase não existe perante a força. E  então ele estava. Sem mudança. E então ele me viu. E seu olhar foi o mesmo de sempre, flutuando entre o delicado e o desafiador. Entre a mansidão e o desejo. Como pode isso? Ele cantou pra mim a noite inteira. E cada canção era como um beijo e uma bofetada. Poucas vezes me senti frágil na vida. Dessa vez, no entanto, a fragilidade soava em mim não como derrota, mas sim como vitória. Da força sobre o medo!

Ele se aproximou. Sorriu. O mesmo perfume, o mesmo toque nas mãos... “eu queria pedir desculpas pelo que disse aquele dia.” Era a força e sua adaga lancinando meu coração, absurdamente apaziguado. É o avesso, do avesso, do avesso. É a história que tem tudo pra dar errado! Tem tudo o que não combina, tudo o que o não pode abranger, constar, ser descrito. Mas, basta essa presença, minha e dele, e as oposições somem e o mundo fica de cabeça pra baixo, com a sensação de estar, mais do que nunca, no seu exato lugar.

“Se você quiser, se você puder, por favor, precisamos conversar...”