domingo, 13 de novembro de 2016

Trump, D.

Primeira vez que falo sobre política por aqui. Pouco entendo do assunto e, apesar disso, a pergunta que mais me fazem os amigos brasileiros ultimamente é: como isso foi possível? Tentarei escrever o que não consegui explicar para todos eles. Mesmo correndo o risco de não ter entendido se foi isso que, de fato, aconteceu.

São 3 os meus argumentos. O primeiro, que é mais consensual: o americano “médio”, mais típico do meio oeste, pouco escolarizado, pouco qualificado profissionalmente e que ainda constitui a maioria da população, não se sente representado pelos democratas. Aliás, eles costumam associar a figura típica do democrata ao pessoal mais urbano, da costa leste, mais “descolado”, digamos. As chamadas políticas sociais nunca os tiveram como alvo. Então, meio que deixados à sua própria sorte e imersos num mundo cristão mais conservador, estão absolutamente de “saco cheio” (rs) de todo o discurso democrata, característico dos últimos anos. Não é questão de esquerda/direita (não existe isso claramente entre essa população), mas sim de um ressentimento acumulado e silencioso. Tão silencioso, que não foi captado por todas as pesquisas que davam como certa a vitória de Hillary.

Segundo argumento, o preconceito. Que, se pensarmos bem, não pode ser associado a classes de pessoas, ou seja, preconceituosos existem em qualquer classe, ou ambiente social. Especificamente aqui, o preconceito contra o negro costuma ser o mais frequente. A pergunta é: até que ponto a postura de grandes parcelas da população negra não colabora para exacerbar esse preconceito? Outro dia, quando expus esse meu pensamento a um amigo, fui taxado de preconceituoso! (rs) Tentei mostrar que, a priori, não tenho qualquer preconceito “cego”, a não ser contra indivíduos que extrapolam deliberadamente algum tipo de comportamento social.

Um exemplo (que acontece demais por aqui, já vi várias vezes): estávamos numa lanchonete super bacana, ambiente tranquilo, serviço perfeito, quando adentra o ambiente uma família de negros gor... não posso falar isso (rs)... obesos, digamos. Uma falta de educação ímpar. Falando aos berros, gritando pelo garçom, depois reclamando acintosamente do serviço. Perguntei a um amigo gringo porque ninguém, nem o gerente, chamava a atenção da distinta família (pai, mãe, 2 filhos) e sabe a resposta? Pioraria a situação, perigando os caretas chamarem a polícia, alegando racismo. E isso, essa postura arrogante, de quem quer descarregar um ódio de séculos no primeiro que lhes cruze a frente é bem mais comum do que podemos imaginar.

Essa maioria silenciosa, que mencionei acima, odeia tudo isso! Vide casos corriqueiros de “malucos” que simplesmente atiram contra negros. Será que sou preconceituoso pensando assim? Ah, só pra lembrar: fui casado com um negro por 10 anos... a pessoa mais maravilhosa que conheci na vida! E que era um negro, de alma negra, com postura negra... só que educado, carinhoso, enfim...

Trump é o “modelo” do que essa maioria silenciosa gostaria de ser! Fala o que quer, sem se importar se está politicamente correto, ou não. Trump, que não tem nada de bobo, percebendo isso, foi carregando cada vez mais nesse tipo de discurso. Que é o oposto dos políticos atuais, que são desprezados por essa maioria, que lhes atribui a responsabilidade de roubarem seus sonhos americanos. Acho que qualquer candidato que tivesse essa mesma postura seria um páreo sério para Hillary. Aliás, ela personifica exatamente tudo o que essa maioria mais odeia nos políticos!

Terceiro: aqui o presidente não tem esse poder todo que possamos imaginar. Na verdade, o poder é bem pulverizado. Ele apenas dá um certo direcionamento na política central. Para a vida corriqueira dos indivíduos, cada estado, cada cidade, tem suas próprias legislações, fora o poder econômico das grandes corporações, dos grandes grupos econômicos. E todo mundo sabe bem isso! Como o voto não é obrigatório, a abstenção nessa eleição foi de quase 50%. Então, quem elegeu Trump foi 25% dos eleitores! Incrível! Nem comento sobre a barafunda que é o sistema eleitoral. Esses 25 % simplesmente fizeram um voto de protesto “contra tudo o que se tem por aí”...

Pra fechar: em minha singela opinião dificilmente Trump cumprirá a maioria de suas promessas! Pelo simples fato de que elas são inexequíveis. Ou alguém acredita que se pode deportar facilmente 11 milhões de imigrantes ilegais! Ou construir um muro (aliás, para que mesmo?) e cobrar do vizinho! Ou – o que é mais dramático! – devolver o sonho, hoje impossível, dessa maioria que, ao que tudo indica, continuará na mesma situação em que se encontra hoje...

Falei muita bobagem? (rs)


  


domingo, 6 de novembro de 2016

Notice: Teen Behavior Detected

Sábado, sem programa, um tédio. Por que não? E lá fui. Bom lugar, aconchegante, aperitivos e bebidinhas, além de música ao vivo de qualidade... além do que era dia de uma certa banda toda trabalhada no folk (rs). Por que não? Tem melhor estratégia pra “virar o jogo” que surgir, inesperadamente, no território do outro? E lá fui.

Certeza que ele notou quando cheguei. Continua lindo... como canta suave, sensualmente! Porém, nada de entregar de bandeja! Firmeza é o meu nome (rs). Terminada a apresentação, momento de dúvida no ar. Não me mexi. Ele foi conversar com outras pessoas; passou bem próximo, me cumprimentou. Retribui, no melhor estilo britânico de ser e aguardei as cenas dos próximos capítulos.

Alguns minutos depois, um dos que conversavam com ele veio até minha mesa. Era o rapaz que falou comigo dias atrás, tentando explicar o que havia acontecido com o mocinho. Pensei: vem correio elegante! (rs) Surpresa: queria apenas saber como eu estava, papo leve e informal. Convidei pra sentar, ofereci uma bebida. Aceitou. E engatamos uma prosa, entre amenidades, perspectivas de vida, ideias, gostos. Foi então que notei que ele é mais novo que o mocinho novo. E, se meu radar ainda funciona, é “do ramo” também.

(Pensamento que quase me fez rir inadvertidamente: vai ver meu negócio é abrir uma creche! Que horror! rs)

E assim foi, durante a apresentação da outra banda, também muito interessante. Muito bom, mas sem encantamento, que minha cota já esgotou. Vez por outra, eu notava olhares disfarçados do mocinho. Aliás, duelo de olhares. Como ele não veio, to nem aí! Dado o avançado da hora, me despedi do Billy (quando soube seu nome, inevitável: the kid!) e sai, certo de que, nem em minha tenra juventude, agi assim. Mais leve impossível. Amanhã de volta para o mundo da seriedade.

PS: Quase “escorreguei” quando ele cantou essa canção...


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Día de Los Vivos

“In every love, there are at least two beings, each of them the great unknown in the equations of the other. This is what makes love feel like a caprice of fate – that eerie and mysterious future, impossible to be told in advance, to be pre-empted or staved off, to be speeded up or arrested. To love means opening up to that fate, that most sublime of all human conditions, one in which fear blends with joy into an alloy that no longer allows its ingredients to separate. Opening up to that fate means, in the ultimate account, admission of freedom into being: that freedom which is embodied in the Other, the companion in love.

Without humility and courage, no love. Both are required, in huge and constantly replenished supplies, whenever one enters an unexplored and unmapped land, and when love happens between two or more human beings it ushers them into such a territory. As long as it lives, love hovers on the brink of defeat. It dissolves its past as it goes; it leaves no fortified trenches behind to which it could retreat, running for shelter in case of trouble. And it knows not what lies ahead and what the future may bring. It will never gain confidence strong enough to disperse the clouds and stifle anxiety. Love is a mortgage loan drawn on an uncertain and inscrutable future.”                                                                                               
(Zygmunt Bauman)




Então você chega em casa e vê que tem uma mensagem. Ler, ou não ler, eis a questão! Até agora não consegui me reconectar a mim mesmo. Uma certeza, integral e absoluta: o mocinho é mais maduro e estruturado que eu! O que dizer?

“Enquanto vive, o amor paira à beira da derrota. Dissolve seu passado à medida que prossegue; não deixa trincheiras onde se possa buscar abrigo em caso de emergência. E não sabe o que está pela frente e o que o futuro pode trazer. Nunca terá confiança suficiente para dispersar as nuvens e abafar a ansiedade. O amor é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável.”

É FODA!